sábado, 26 de março de 2011

Aquela tarde

Há algo que faz o ar ficar doce, como violetas ao vento. O dia está tão brilhante... e o céu não poderia estar mais azul.
Nós estamos sentados na varanda, mãos dadas, uma tarde preguiçosa. Você lê para mim o meu livro preferido. Só o som de sua voz rouca quebra o silêncio, saboreando cada palavra da história. Tudo é paz. Nada no universo poderia interromper aquele momento.
Me flagro olhando para você, tentando adivinhar seus pensamentos, tentando prever o desfecho que eu já sei de cor. Seus olhos, tão negros, tão profundos, estão refletindo o sol e isso te dá uma certa aura de anjo. Uma mecha negra de sua cabelo, brincando sobre a testa, desmente a primeira impressão: talvez não anjo, mas belo, com certeza belo.


Eu poderia ficar ali o dia inteiro, somente olhando e escutando. Até meus devaneios eram preguiçosos naquela tarde. Mas, numa fração de segundo, tudo escurece. Um pouco receosa, abro os olhos devagar e tudo o que vejo é o teto do quarto. Num lampejo, imagens difusas me vêm à mente. Tento retê-las, mas é como segurar água com as mãos.
Ouço uma promessa sussurrada, baixinho, e descubro que ela vem da minha própria boca (ou seria da minha alma?): "Eu sempre vou te esperar". Sinto algo quente escorrendo pelas minhas bochechas e seu sorriso começa a se desvanecer, junto com o restinho de verão que ainda bate à janela.






"Fate fell short this time 
Your smile fades in the summer."

(Blink 182)

domingo, 20 de março de 2011

Caos interior

Eu imagino histórias, reinvento fatos, revejo rostos, relembro perfumes. Não há um segundo sequer em que minha mente esteja parada.
Eu gosto, especialmente, de tentar prever o futuro e mudá-lo quantas vezes eu quiser. Gosto de criá-lo e recriá-lo de acordo com o meu humor. Vivê-lo, revivê-lo, até me cansar, e descartá-lo.
Já vivi muitas vidas, já fui muitas pessoas, já me apaixonei por príncipes e plebeus, astros de rock e jogadores de futebol. Já fui médica, atriz e bailarina. Também fui jogadora de vôlei e chef de cozinha.
Já voei e naveguei em navios piratas. Já presenciei a aurora boreal de cima de um balão. Já cantei para a lua uma triste canção e já imaginei o passado todo em tons de sépia.
A cada dia invento algo novo, uma aventura a qual me adentrar. Saboreio-a, esqueço-a.
A cada noite tenho os sonhos mais loucos e impossíveis e os amo, mesmo quando não são bons.
Minha mente é um embaralhado de idéias revolucionárias, boas histórias do passado, impossíveis previsões do futuro, desejos para o presente, imagens, sons, perfumes, sensações, gostos. Todos sussurrando-me ao ouvido ao mesmo tempo. Um completo caos que nunca fica em silêncio.
Tenho um universo inteiro dentro de mim, sem leis e sem impossibilidades. É onde todas as coisas são lindas e me fazem ver a realidade com olhos de poeta. Um poeta sem palavras para descrevê-la.
Tudo sempre é novo, tudo sempre é belo, tudo sempre pode inspirar uma bela história que vale a pena ser contada.