quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Mal Súbito

A saudade chegou sorrateira. Veio se aproximando como uma serpente sem que eu percebesse e desferiu o golpe mortal. A dor se alastrou: no início difusa e enevoada, depois intensa e pulsante. Minha mente procurava desesperadamente lembranças suas, como a um bálsamo para as feridas. Quando encontrava, porém, tais memórias, estas só faziam aumentar ainda mais a dor lancinante. 
A serpente se achegou e me abraçou, um abraço cheio de vazio, gelado e deserto. Um vazio tão grande que oprimia e sufocava, comprimindo meus pulmões, que gritavam em busca de ar.



Meus olhos buscavam você, a cura da qual eu necessitava. Buscavam em cada rosto, em cada gesto, em cada aspecto. Minha alma sofria, como que mutilada: queria a sua por perto, para ocupar o buraco da ausência.
O desespero... Só isso: desespero, frio e escuridão dentro de mim, em um lugar do qual eu não poderia fugir.
O monstro se cansou... já extraíra tudo de sua vítima... E então ele se foi, deixando seu veneno em minha circulação. Deixando-me agonizante e vazia, sem remédio e sem cura, esperando que o tempo cicatrize o que vai deixar marcas eternas.
E tudo foi tão rápido quanto um pesadelo, do qual eu acordei achando que a louca era eu. Depois me flagrei na minha própria fraqueza, na vontade de sumir. Prometi que isso nunca aconteceria novamente, que eu seria forte dessa vez. Pena que a dor continua aqui, zombando das minhas promessas fajutas.




"And I miss your laugh, your smile..." (Blink 182 - Always)

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Evolução

Quando eu era criança e as pessoas me perguntavam o que eu queria ser quando crescesse, eu tinha a resposta na ponta da língua. Mesmo que não tivesse, eu ainda possuía muito tempo para pensar sobre o assunto. Eu não precisava saber. Hoje, eu pergunto a mim mesma o que serei quando crescer, sem me dar conta de que já cresci mais do que o suficiente para saber a resposta.


Eu faço vários planos e os coloco num futuro distante, esquecendo-me do fato de que eu deveria começar a colocá-los em prática agora e de que eu nem sei como iniciá-los. Eu sonho demais.
Quando eu era criança, eu achava que os adultos sabiam tudo e podiam fazer tudo. Hoje, eu vejo que tenho muito mais dúvidas que antes e que elas são muito mais complexas. Vejo também que eu até posso fazer muitas coisas, mas tenho medo. Do quê? Não sei.
Fico tentando descobrir que diferença eu faço no mundo. Minto pra mim mesma dizendo que eu ainda vou fazer essa diferença, que não chegou a hora. E, mais uma vez, ponho meus planos lá no futuro.
O que estou fazendo hoje para realizá-los? É o que eu me pergunto todos os dias. Mais uma vez me engano dizendo que estou estudando, me preparando. Sim, eu realmente estou estudando, mas me sinto parada no tempo, inútil, parece que o que faço não é o suficiente.
Um bom professor de biologia disse, uma vez, que evolução é mudança, não importa se boa ou ruim. Eu não mudei e, às vezes, dizia isso até com orgulho. Descobri, porém, que também não evoluí. Ainda sou a mesma criança insegura de outrora e não sei como crescer.
Perco-me, olhando o passado com saudade, criticando o presente e me iludindo com o futuro. Em alguns momentos me sinto presa dentro de mim.
Eu só queria uma direção, alguém que dissesse "Você está indo bem" ou "Você deveria fazer isto ou aquilo", um conselho que fosse. Não tem ninguém. Faço tudo por tentativa e erro, sozinha, sabendo que, lá na frente, se eu fracassar, várias pessoas irão apontar o dedo para a minha culpa e quererão dar conselhos. Mas já será tarde. Eu só irei me perguntar onde é que eles estavam quando eu precisei.
Acho, realmente, que eu não estou preparada para nada, mas eu sigo, tentando ter coragem para mim e para encorajar os outros, dando uma de forte. O que ninguém sabe é que, na verdade, eu estou morrendo de medo. Talvez isso seja coragem: lutar quando se quer fugir; talvez eu esteja tentando apenas achar alguma qualidade em mim. Mas, quer saber? Que se dane. Talvez isso seja até uma evolução.




"O mais corajoso dos atos ainda é pensar com a própria cabeça." (Coco Chanel)