sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Indiretas

Se você quer mudar comigo, se afastar de mim, me ignorar ou ser distante, tudo bem. Eu só peço, imploro, que me deixe saber o motivo disso. Eu preciso ter o direito de me explicar, me desculpar ou de, simplesmente, reafirmar o que fiz. Eu preciso saber o motivo pelo qual estou me sentindo intrusa onde antes eu me sentia em casa. 
Sei que tenho inúmeros defeitos, sei que falo e ajo sem pensar não poucas vezes. Sei que sou estabanada e posso magoar as pessoas sem me dar conta disso. Sei que às vezes sou lerda pra entender algumas coisas.




Mas eu não gosto de meias palavras, nem de mais verdades. Eu fiz algo? Pois bem: grite comigo, berre na minha cara ou faça um outdoor mostrando pra todos a perversa que sou, mas me poupe desse silêncio macabro e da dúvida das coisas não ditas.
Não gosto de supor, de suspeitar, de tentar encaixar fragmentos de memória para, talvez, ter um pequeno vislumbre do meu erro. Quando supomos, excluímos as outras alternativas da verdade. Quando bancamos o detetive, temos grande chance de nos deixarmos levar pelo nosso lado da história.
Como não há defesa sem ataque, eu espero pacientemente as tropas inimigas. Não fugirei, juro! Mas faço isso pelo meu direito à resposta. Um combate limpo e claro é melhor que essa paz mascarada e falsa que agora paira agourenta sobre mim. É só uma dica, mas espero que você a siga. 
E que venham os bombardeios!



"Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o que, com frequência, poderíamos ganhar, por simples medo de arriscar." (William Shakespeare)

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Paixões

Me apaixonei por um menino de cartola e por um roqueiro cabeludo, pelas suas personalidades e pelo que me faziam sentir. Me apaixonei pelo leve passo de dança de uma bailarina e por um vestido que eu nunca usaria. Me apaixonei pelos ipês cor-de-rosa da minha cidade no início do inverno e pelo grande felino que caminhava na savana.
Me apaixonei pelo garoto estranho que cantava Chico, com seu jeito tímido, sem nem perceber o quão belo ele era naquele momento.Me apaixonei por pessoas hospitaleiras e pelo sabor inusitado de frutas com arroz. Me apaixonei por um filme, por sua música e pelo garoto à janela, à espera por uma história maravilhosa. Me apaixonei por certo diretor de cinema sombrio e louco e por certo ator que contribuía para ambas as características.

   

Me apaixonei pelos trapezistas de circo, voando tão alto quanto certos sonhos meus. Me apaixonei pela cidade-luz e cada uma de suas ruas, que parecem poesia sólida. Me apaixonei pela cidade maravilhosa e pelo gingado despretensioso de seu povo.
Me apaixonei pelos garotos que ofereciam abraços em uma era tão insensível. Me apaixonei por voluntários que doam seu tempo por amor e doei meu próprio tempo por amor. Me apaixonei pelo violinista alegre que tocou em certo restaurante em um carnaval esquecido pelo tempo.
Me apaixonei por um cara por quem eu sabia que me apaixonaria assim que o vi e o amei mais do que poderia imaginar que amaria. Me apaixonei pelo país das maravilhas ao qual eu não posso voltar, por cada árvore, por cada momento, por cada rosto querido que conheci lá. Me apaixonei por Vinícius e por Álvares de Azevedo, por cada gota de poesia que eles instilaram em mim. Me apaixonei por uma praia e suas estrelas-do-mar. Me apaixonei por olhos azuis que dançam ao sorrir, por um sorriso que aconchega e pela bondade escondida em brilhos furtivos no olhar.
Me apaixonei pelo rebolado do Elvis, pela dancinha do Axl e pelo timbre do Mark. Me apaixonei pelas estrelas e, pela mais brilhante delas, nutri um amor especial. Me apaixonei por personagens de livros que só existem na minha cabeça. Me apaixonei por uma música e por sorrir ao ouvi-la. Me apaixonei por fotografias que me fizeram sentir e por filmes que me fizeram pensar. 
Me apaixonei por mundos imaginários e por seus habitantes, que se tornaram amigos e amores. Me apaixonei pelas pessoas que me fizeram perder o sono e, também, perdi o sono por aquelas por quem me apaixonei. Me apaixonei pelos amigos que me libertaram para que eu pudesse ser eu, inteira e louca.
Me apaixonei pela vida, enfim, e por todos os fragmentos de poesia que ela cedeu ao meu livro de memórias. Me apaixonei pela eternidade e pelas saudades não vividas que ela me dá. Me apaixonei, simplesmente, pelo prazer de me apaixonar.


"Pense em toda a beleza que ainda existe ao seu redor e será feliz." (Anne Frank)


sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

A doce arte de imaginar

Ando criando títulos e frases de efeito que não se encaixam em mais nada e ficam pairando no éter da minha imaginação. Penso: "eu deveria fazer um texto para eles", mas são como peças de quebra-cabeças diferentes. 
Alguns textos, que pareciam prontos, se recusam a sair da ponta da caneta para o papel. Simplesmente não parecem bons o suficiente para que tomem forma. Talvez em outros tempos eu os achasse bons, mas agora eles não me mostram o que eu procuro. Em nenhuma dessas letras o garoto de olhos negros está. Seu sorriso não se esconde em nenhuma dessas palavras e elas parecem vazias, sem sentido.
Posso tentar descrevê-lo, mas nenhuma enciclopédia inteira poderia criar a imagem da paz do seu sorriso ou do brilho dos seus olhos.
Não, as minhas palavras não são mais suficientes. Elas me foram roubadas no instante em que sua voz cantou a música que eu queria ouvir, mas não conhecia.
Às vezes, de repente, surge uma ideia e eu me vejo escrevendo freneticamente como se essas confusas linhas pudessem materializá-lo aqui, na minha frente. Elas não podem... Mesmo que pudessem, seriam apenas um esboço mal feito de uma lembrança distante. 
Ainda assim, eu procuro, escondido em cada letra, ou na breve pausa de uma vírgula, algo que possa trazê-lo para mais perto. Esses pequenos entes, no entanto, mentem: criam imagens falsas de esperanças inexistentes, como cartomantes que leem um futuro inventado. Podem até mesmo construir os mais belos castelos de contos de fadas, mas eles caem ao menor sopro de realidade.
Não posso acreditar em vocês, palavras, pois ele não esta aí. São somente vocês brincando de faz de conta, mostrando miragens que desaparecem se olharmos mais de perto. Ao que elas me respondem: "Mas, quem é ele, afinal, que você tanto procura?"
Talvez ele seja somente inspiração, talvez uma estrela (a mais brilhante do céu), talvez só um amigo, que, de tão distante, já não ouve mais minhas ideias fantásticas. Pode ser também que ele seja o herói das minhas histórias, ou somente o garoto sobre o qual eu gosto de escrever.Talvez ele seja um pouco de tudo isso e mais: ele é o dono dos olhos que eu gostaria que estivessem olhando para mim enquanto escrevo e da risada musical que ri das minhas besteiras.
Podem pensar que estou ficando excessivamente melodramática, mas a imaginação é única para cada pessoa, e a minha tem a forma do garoto de cabelos bagunçados e olhos negros, que anda meio sumido, se perdendo em palavras e versos alheios.
Pois é, palavras, eu acho que deveria abandoná-las... Mas imaginar se tornou um vício do qual eu não consigo me curar.




"Meu amor permanecerá jovem em meus versos" 
(William Shakespeare)

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Tempo e espaço

Sou viajante do tempo... Peregrina do espaço. Atravesso ruas e alamedas, observo pessoas, tão passageiras... como eu. Seus rostos revelam um pouco da imensidão que é cada pessoa: um universo particular. Umas riem sozinhas, se lembrando de piadas antigas; outras olham o mundo assustadas, como se o bicho-papão estivesse na próxima esquina. Algumas olham tudo ao seu redor como se tudo fosse novo; outras andam tão impassíveis, que parecem cascas ocas se locomovendo. Todas elas são uma incógnita, um mundo desconhecido, cheio de possibilidades e histórias não contadas, são como livros ainda não lidos na estante de uma imensa biblioteca.
Quando eu as observo, lembro-me dos rostos queridos que já se foram, que ainda são ou que, um dia, serão. Penso no que aprendi com eles e, talvez, no que pude ensinar. Penso na sensação que cada pessoa me causou, nas impressões que ficaram, como digitais em minha memória: seus sorrisos, suas lágrimas, seus modos tão particulares de dizerem meu nome, o timbre de suas vozes...
Assim, essas memórias vão me levando a lugares distantes no tempo... Alguns, tão belos como reinos encantados, fazem o peito apertar de saudade quando lembrados. Outros, escuros e sombrios, me tornaram mais forte, mas nem por isso deixaram de me amedrontar. E eu recordo momentos vividos nesses lugares: o cheiro, a cor, a luz.
O tempo é engraçado... Sempre parece mais curto do que realmente foi ou mais longo do que deveria ter sido. E ele sempre volta, revive, mas impalpável... Sempre está ali, fazendo de nós o que nós somos, por causa do que vivemos.
O espaço é engraçado... Ás vezes foge de nós, mesmo não saindo do lugar, mesmo que não queiramos sair dali. Às vezes ele nos persegue, mesmo quando estamos distantes.
Sou peregrina num mundo caótico, estranho e familiar ao mesmo tempo. E fico imaginando... talvez, se eu me atrasasse um segundo, se decidisse ir a outro lugar que não ao que eu fui, quem eu teria conhecido ou deixado de conhecer? E eu percebo que o todo o meu universo, meus amigos, meus amores, foi feito e criado a partir das minhas menores decisões e das mais incríveis coincidências, para que estivéssemos no mesmo momento, no mesmo local. Ou não foi coincidência?
É o motivo de eu gostar de olhar nos olhos das pessoas e guardar na lembrança essa fugaz imagem. Porque tudo o que temos é o instante e é nele que reside a eternidade.




"A vida é a mais deslumbrante das coincidências." (Antonio Prata)