segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Tempestade

As nuvens negras se aglomeram em frente à minha janela. Ouço trovões e vejo os pássaros se recolherem a um abrigo seguro. Tudo escurece e o vento forte que sopra esbarra em meu corpo ao passar.
Pequenas gotas caem graciosamente e molham minha face. E é ali que eu quero ficar, sentindo o vento bagunçar meus cabelos e a chuva encharcar minha alma. Quero ver os lindos raios rasgando o céu e iluminando essa tarde tempestuosa. E, tendo os trovões por trilha sonora, acompanhá-los, cantando a plenos pulmões a minha música preferida. Não haverá ninguém para se importar caso eu desafine, porque esse momento é só meu.
Meu espírito se expande e é como se esse temporal fosse um reflexo inverso do que se passa em meu interior. Eu vou aproveitar a tempestade, de corpo inteiro, sem pensar, sem temer e deixar que ela me transforme. Talvez eu descubra algo sobre seu mistério, talvez eu só tenha uma experiência extraordinária.
Ninguém sabe quando o tempo abrirá novamente e o céu ficará, enfim, azul. Mas eu sei que, para mim, o azul será muito mais bonito, porque somente os olhos que foram lavados pela tempestade podem ver claramente o verdadeiro brilho do sol. E saberei aproveitá-lo, agradecendo por, finalmente, essa nuvem ter-se esvaído.






"As palavras têm a leveza do vento e a força da tempestade." 
(Victor Hugo)

domingo, 30 de janeiro de 2011

2011

O início de uma nova década. Desejo que tenhamos aprendido com os anos anteriores a construir o hoje aprendendo com o ontem e pensando no amanhã. Que escolhamos o certo e não o fácil. Que tenhamos a capacidade de dividir mais com o próximo: o tempo, o conhecimento, um sorriso, um abraço. Que aprendamos a dar às nossas crianças o que elas precisam, não o que elas querem, para que se tornem melhores adultos no futuro. 
Que saibamos aproveitar o tempo que nos é dado com as coisas que realmente importam. Que viajemos para dentro de nós mesmos, pois, para consertar o mundo, primeiro temos de reparar nossos próprios defeitos.
Que os homens sejam mais corajosos e as mulheres, mais doces.
Que compreendamos que os olhos dizem mais que a boca e que um simples ato errado pode destruir uma fortaleza que demorou anos para ser construída. Que possamos usar nossos recursos com cautela e sabedoria.
Ah! E que tenhamos um melhor gosto musical também, pois continuar colorido não dá!


Grite, como se todas as suas células emitissem som.
Comemore, como se cada vitória fosse a final da copa do mundo.
Abrace, como se nunca mais quisesse soltar.
Beije, como se sua vida dependesse disso.
Sonhe, como se já fosse realidade.
Aprenda o que cada segundo pode ensinar.
Chore com vontade, ria com mais vontade ainda.
Acredite, afinal o impossível é só algo que ninguém tentou ainda.


Feliz 2011

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Olhos negros

A chuva escorria pela janela do carro como milhares de lágrimas peroladas. Eu não via o caminho, queria fugir para qualquer lugar bem longe dos meus pensamentos.
A sombra da risada dele ainda estava na minha cabeça, como um quadro irremovível, claro e límpido. Me peguei pensando naqueles dias, que agora são um passado inatingível, nos quais eu ansiava ver seus olhos negros e insondáveis olhando nos meus.
Era tão fácil amá-lo... Era como se deixar levar pela correnteza: suave e irresistível. 
Quando ele chegava em casa e batia à porta, meu coração saltava e, mesmo agora, só lembrando, ainda salta com a esperança de que o rapaz de olhos escuros esteja no ali, apoiado meio de lado e com um sorriso brincando nos lábios, como costumava fazer, a me esperar.
Eu gostava de estar com ele. Ele me fazia rir com aquele jeito de quem desafia o perigo. Nada que não oferecesse riscos parecia diverti-lo. Sempre andava com aquele ar rebelde, coturnos pretos e cabelos compridos e, lá no fundo, certa altivez no olhar.
Gastamos muitas tardes, aprontando e aproveitando o tempo que achávamos que duraria para sempre. É como se sua risada rouca ainda ecoasse em meus ouvidos e o garoto bonito estivesse ali, à espreita, brincando de esconder.
E, então, ele se foi... Assim, abruptamente, como uma flor colhida em todo seu esplendor, levando consigo tudo o que tornava o mundo mais belo, mais alegre.
Meus olhos nunca mais encontrarão aqueles nos quais eu me perdi. Eu nunca mais ouvirei sua voz vibrante, que sussurrava em meu ouvido: "Vem comigo, vou te mostrar um lugar..."
Ele riria se me visse derramando lágrimas como agora. Diria que sou uma boba e que nunca iria me deixar. Mas ele não está mais aqui para me censurar. E como poderia, se até o céu chora com sua partida?
Aqueles meus amados olhos negros agora se fundem com o céu e refletem as estrelas que eles tanto amavam. Eu gostaria de, uma última vez, passar a mão pelos seus cabelos, abraçá-lo apertado e ouvi-lo dizer, como sempre dizia: "Me espera, que eu volto... Eu sempre vou voltar para você."