segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Tempo e espaço

Sou viajante do tempo... Peregrina do espaço. Atravesso ruas e alamedas, observo pessoas, tão passageiras... como eu. Seus rostos revelam um pouco da imensidão que é cada pessoa: um universo particular. Umas riem sozinhas, se lembrando de piadas antigas; outras olham o mundo assustadas, como se o bicho-papão estivesse na próxima esquina. Algumas olham tudo ao seu redor como se tudo fosse novo; outras andam tão impassíveis, que parecem cascas ocas se locomovendo. Todas elas são uma incógnita, um mundo desconhecido, cheio de possibilidades e histórias não contadas, são como livros ainda não lidos na estante de uma imensa biblioteca.
Quando eu as observo, lembro-me dos rostos queridos que já se foram, que ainda são ou que, um dia, serão. Penso no que aprendi com eles e, talvez, no que pude ensinar. Penso na sensação que cada pessoa me causou, nas impressões que ficaram, como digitais em minha memória: seus sorrisos, suas lágrimas, seus modos tão particulares de dizerem meu nome, o timbre de suas vozes...
Assim, essas memórias vão me levando a lugares distantes no tempo... Alguns, tão belos como reinos encantados, fazem o peito apertar de saudade quando lembrados. Outros, escuros e sombrios, me tornaram mais forte, mas nem por isso deixaram de me amedrontar. E eu recordo momentos vividos nesses lugares: o cheiro, a cor, a luz.
O tempo é engraçado... Sempre parece mais curto do que realmente foi ou mais longo do que deveria ter sido. E ele sempre volta, revive, mas impalpável... Sempre está ali, fazendo de nós o que nós somos, por causa do que vivemos.
O espaço é engraçado... Ás vezes foge de nós, mesmo não saindo do lugar, mesmo que não queiramos sair dali. Às vezes ele nos persegue, mesmo quando estamos distantes.
Sou peregrina num mundo caótico, estranho e familiar ao mesmo tempo. E fico imaginando... talvez, se eu me atrasasse um segundo, se decidisse ir a outro lugar que não ao que eu fui, quem eu teria conhecido ou deixado de conhecer? E eu percebo que o todo o meu universo, meus amigos, meus amores, foi feito e criado a partir das minhas menores decisões e das mais incríveis coincidências, para que estivéssemos no mesmo momento, no mesmo local. Ou não foi coincidência?
É o motivo de eu gostar de olhar nos olhos das pessoas e guardar na lembrança essa fugaz imagem. Porque tudo o que temos é o instante e é nele que reside a eternidade.




"A vida é a mais deslumbrante das coincidências." (Antonio Prata)