sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

A doce arte de imaginar

Ando criando títulos e frases de efeito que não se encaixam em mais nada e ficam pairando no éter da minha imaginação. Penso: "eu deveria fazer um texto para eles", mas são como peças de quebra-cabeças diferentes. 
Alguns textos, que pareciam prontos, se recusam a sair da ponta da caneta para o papel. Simplesmente não parecem bons o suficiente para que tomem forma. Talvez em outros tempos eu os achasse bons, mas agora eles não me mostram o que eu procuro. Em nenhuma dessas letras o garoto de olhos negros está. Seu sorriso não se esconde em nenhuma dessas palavras e elas parecem vazias, sem sentido.
Posso tentar descrevê-lo, mas nenhuma enciclopédia inteira poderia criar a imagem da paz do seu sorriso ou do brilho dos seus olhos.
Não, as minhas palavras não são mais suficientes. Elas me foram roubadas no instante em que sua voz cantou a música que eu queria ouvir, mas não conhecia.
Às vezes, de repente, surge uma ideia e eu me vejo escrevendo freneticamente como se essas confusas linhas pudessem materializá-lo aqui, na minha frente. Elas não podem... Mesmo que pudessem, seriam apenas um esboço mal feito de uma lembrança distante. 
Ainda assim, eu procuro, escondido em cada letra, ou na breve pausa de uma vírgula, algo que possa trazê-lo para mais perto. Esses pequenos entes, no entanto, mentem: criam imagens falsas de esperanças inexistentes, como cartomantes que leem um futuro inventado. Podem até mesmo construir os mais belos castelos de contos de fadas, mas eles caem ao menor sopro de realidade.
Não posso acreditar em vocês, palavras, pois ele não esta aí. São somente vocês brincando de faz de conta, mostrando miragens que desaparecem se olharmos mais de perto. Ao que elas me respondem: "Mas, quem é ele, afinal, que você tanto procura?"
Talvez ele seja somente inspiração, talvez uma estrela (a mais brilhante do céu), talvez só um amigo, que, de tão distante, já não ouve mais minhas ideias fantásticas. Pode ser também que ele seja o herói das minhas histórias, ou somente o garoto sobre o qual eu gosto de escrever.Talvez ele seja um pouco de tudo isso e mais: ele é o dono dos olhos que eu gostaria que estivessem olhando para mim enquanto escrevo e da risada musical que ri das minhas besteiras.
Podem pensar que estou ficando excessivamente melodramática, mas a imaginação é única para cada pessoa, e a minha tem a forma do garoto de cabelos bagunçados e olhos negros, que anda meio sumido, se perdendo em palavras e versos alheios.
Pois é, palavras, eu acho que deveria abandoná-las... Mas imaginar se tornou um vício do qual eu não consigo me curar.




"Meu amor permanecerá jovem em meus versos" 
(William Shakespeare)