quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Silêncio

As palavras me agradam. São belas em todas as suas formas. São como ideias soltas ao vento, formando paisagens magníficas que os olhos não podem ver. Têm o poder se fazer uma lágrima cair ou de secá-la. São responsáveis por todo o rumo que o mundo toma, porque quase tudo é por meio delas.
Eu gosto da fala, também. É o estado gasoso da palavra. É libertador poder falar, pois isso possibilita fazer com que as outras pessoas enxerguem o que só eu consigo ver. Posso construir castelos de sílabas e sons e fazer com que ele seja visto e apreciado por outros, como uma obra de arte de minha autoria. Enquanto eu falo, eu crio ideias, amadureço teorias, descubro soluções... e me torno mais inteligível para mim mesma.
A única coisa que me irrita nas palavras é que elas nos fazem crer que são tudo o que importa. Nós temos a necessidade de falar, ficamos desconfortáveis com o silêncio e, para quebrá-lo, falamos inutilidades. Talvez tenhamos medo de agir. Falar é mais confortável.
Quando não falamos coisas à toa, nós cantamos, batucamos, murmuramos, assobiamos, fazemos barulho de alguma forma. As pessoas parecem não gostar do silêncio. Provavelmente porque ele faz pensar e traz à tona aquilo que havíamos escondido lá no fundo. Ele faz-nos confrontar-nos a nós mesmos e isso pode ser desconfortável. Pensar, às vezes, é cansativo e incomoda nossa consciência, porque mostra o que está errado e martela em nossa alma. 
A quietitude também aguça nossos sentidos: enxergamos melhor, ouvimos melhor, sentimos melhor. Mas os sentidos atrapalham: quando vemos melhor, não podemos nos fingir de cegos às circunstâncias; quando ouvimos melhor, não podemos nos fazer surdos às críticas; quando sentimos melhor, não podemos nos fazer insensíveis aos problemas alheios.
Eu amo o silêncio (me refiro mais ao silêncio interno que ao externo, que é quase impossível de se obter nesse mundo barulhento), porque, quando eu para de falar, eu posso me ouvir e, assim, me entender. É nele que reside a calma, embora haja um turbilhão na minha mente, porque posso repassar cada pensamento com a velocidade que eu quiser, como um filme com controle remoto. É nele que reside a alma e é por meio dele que a compreendemos. Nele tudo é belo e contemplativo. Nele, eu posso explorar o mundo a partir de outras sensações e entender que gestos podem dizer tanto ou mais do que palavras.
A quietitude nos dá paz, nos faz amenos, nos leva perto de Deus, pois nela nós conseguimos resolver nossos problemas internos e nos tornar leves. Talvez, no começo, machuque trazer à tona certas coisas, mas vale apena poder limpá-las, selecioná-las e guardá-las novamente como livros na estante, agora sem mofo e sem medos escondidos em suas páginas
No silêncio não há discórdia nem guerras (Ah, palavras! Vocês é que são responsáveis por isso... e pelo perdão também). Só há conhecimento, memórias e percepção.
É só porque existe o silêncio que as palavras são tão belas. É só por isso que a música se torna um refúgio e as conversas, uma necessidade: porque elas silenciam nossa mente, enquanto "embarulhecem" todo o resto.





"Sabei escutar, e podeis ter a certeza de que o silêncio produz, muitas vezes, o mesmo efeito que a ciência."
(Napoleão Bonaparte)

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